sábado, 1 de agosto de 2009

Palavra do nosso Comandante ,se resume em esperaça para nós

Só um dia antes da minha assunção no comando geral da PM foi que parei para refletir sobre as conseqüências à minha vida pessoal que a função poderia trazer.

Aprendi com o tempo a não ter expectativas na corporação e apenas fazer meu trabalho.

Sempre que agi diferente, me frustrei.

No início, acalentei o sonho de comandar a companhia de rádio patrulha e PATAMO do 12º BPM, mas isso nunca se deu, embora tenha servido naquela gloriosa Uop por sete anos, assumindo inúmeras funções.

No 7º Batalhão, ainda Capitão, pensei em trabalhar na P/2 como chefe, já que estivera adjunto de duas chefias. Ansiava mesmo isso, mas, não aconteceu, e fui comandante da Cia de RP e PATAMO, além de P/3 e P/4.

Nunca me imaginei, todavia, comandando a Academia, ou o 22º Batalhão.
Essas me eram Unidades "distantes", sem uma relação histórica, ainda que, no caso da APM, tivesse passado três importantes anos de minha vida como cadete.

Foi nestas organizações, justamente, que iniciei nova fase da carreira como seu comandante.

Isso se repetiu muitas vezes ao longo da minha vida e resolvi parar de ter expectativas, de ansiar, por exemplo, por comandar o 12º BPM, onde fui aspirante; as coisas simplesmente foram acontecendo: comandei o BOPE, fui Superintendente na SSPIO, presidente do ISP e, então, Comandante Geral.

Uma jornalista me perguntou no dia da posse do Delegado Alan Turnowisk, na PCERJ, seu eu estava preparado para ser o "CG" se tivesse que assumir o cargo.

Não estranhei sua pergunta, afinal, só se falava disso na mídia.

Respondi para ela que todo coronel da PM tem a obrigação de estar pronto. Se houvesse algum que não se sentisse capaz de assumir a função, não poderia estar na ativa; e completei, em tom de brincadeira, que não me sentia capaz, todavia, de assumir a PETROBRAS ou o cargo de treinador do Vasco.

Creio que na nossa vida profissional as coisas devam funcionar assim; devemos estar prontos para as missões que nos cabem.

Todos devemos ter plenas condições de corresponder às expectativas básicas de um chamado legal e legítimo.

Algumas pessoas estranhas à profissão acreditam que é fácil ser policial militar.

A grande maioria com as quais conversei mais detidamente sobre isso, falavam assentadas no "toco" de seus preconceitos.

Umas até argumentavam que "se é soldado então não se requer conhecimento de nada além de alguns manuais, ordem unida e manuseio de armas".

Reconheço que há muito preconceito no mundo. Isso começa já na distinção que fazemos de nós mesmos em relação ao "outro"; se é o "outro", então não possui as qualidades que "eu possuo", mas possui os defeitos que "eu não possuo".

Levamos isso para o "eu coletivo" também.

Se "o outro coletivo" não tem nossas representações, "nosso eu de grupo", "nosso eu cultural", "nosso eu de classe", logo julgamo-lo desclassificado, quando não mesmo oposto.

Talvez as pessoas não façam reflexões sobre isso e reproduzam um discurso preconceituoso sobre a profissão policial militar.

Por desconhecer a gama infinita de serviços que nossos soldados prestam à sociedade todos os dias, deixando, não raro, o chão encharcado com o seu sangue honrado, não reconhecido e muitas vezes desprezado, muitos tripudiam sobre seu valor.

Não atentam, penso, esses julgadores, para o fato de que nossos policiais militares são a principal frente de defesa para sociedade, atendendo a população nas mais variadas situações que exigem reflexão e conhecimento básico em vários temas, marcadamente do direito e suas leis, e outros das ciências de humanidades.
Mas, se o "cliente" da PM - expressão que só uso aqui por um certo modismo, já que não sou seu adepto, - pouco crê, ou sabe, das habilidades que o dia-a-dia requer dos nossos homens e mulheres, não podemos não tê-las, e, aí, temos que conhecer bem nossa profissão em qualquer nível de carreira que ocupemos, posto que, nas ruas, pouco importa ao cidadão se quem o atende é soldado ou coronel e nunca sabemos o que será exigido de nós.

Nos dias que antecederam minha assunção no comando geral, pensei muito nisso.

Fiquei tentando imaginar que exigências terei que enfrentar.

De cara sei que há as exigências da população por melhoria na segurança, as exigências da mídia por informação, as exigências do sistema de justiça para atendimento de suas necessidades, há as exigências dos protocolos sociais e políticos, há as exigências das metas, as exigências da família, e, principalmente, as exigências da corporação: de seus homens e mulheres ansiosos e merecedores de atenção, respeito e agregação de valor em suas carreiras de sacrifício, o que inclui condições de trabalho, salário, assistência social, alimentação, transporte, férias, assistência médica, acesso ao conhecimento etc etc etc.

Ufa!

Sempre pensei nessas coisas a vida toda na PM, mas nunca parei para pensar o que poderiam me trazer de conseqüências pessoais ao enfrentar esse desafio.

Se parasse para pensar talvez não fosse hoje o Comandante Geral, porque, certamente, não sairei dessa sem um grande desgaste para o corpo e para a alma.

Eu tenho um plano, é verdade, que se inicia na busca de promover equidade.

Essa foi a palavra que encontrei para juntar todas os modelos formais de justiça para a aplicação na PM.

Iniciamos nosso comando com a estratégia de ouvir a todos; se não individualmente, ao menos coletivamente; daí as reuniões com os representantes dos círculos, quando temos recolhido grandes sugestões sobre as quais nos debruçaremos sobre elas, como, por exemplo, os cursos à distância com provas presenciais. Essa já é noventa e nove por cento certo de sair, embora não seja rápido e precisemos de um tempinho para arrumar as coisas.

Uma grande idéia recorrente foi o pagamento de horas extras. Vamos trabalhar por isso.

As idéias são às centenas, estamos compilando e depois vamos apresentá-las, discuti-las nos círculos, analisá-las, descartá-las ou ampliá-las.

Outra ação que acabamos por realizar foi a adoção de um novo e único boletim disciplinar. Compreende-se que nas FFAA isso seja diferente, mas na PM não deve ser. Aqui não temos quadros temporários, de conscritos, então, para que possamos promover equidade disciplinar não podemos deixar que haja sectarismos disciplinares. As recompensas e punições devem ser conhecidas por praças e oficiais sem vedação de acesso, e, se, para as faltas comuns de caserna não é imprescindível sua veiculação em boletim ostensivo de acesso público, o mesmo não podemos dizer daquelas que atingem pontos de honra da profissão, e que, a seu turno, não deixarão de serem publicadas em boletim ostensivo, consoante o que será regulado.

Entendo que a profissão deve ser cada vez mais valorizada, daí querermos mudar o critério de ascensão na carreira, mas é claro que não haverá perda de promoção para ninguém. Eu seria cruel se pretendesse isso. Há milhares de policiais militares aguardando uma promoção que lhes melhore o salário e a auto-estima e eu nunca cogitei de podar-lhes as aspirações.

Todavia, não pode o candidato de hoje, aquele que ainda nem entrou na PM, já se enxergar subtenente, e, por isso, vamos encontrar uma maneira de preparar o futuro, todos juntos.

É verdade que comandar assim é desgastante.

Osório, um dos maiores generais brasileiros de todos os tempos dizia que era fácil a missão de comandar homens livres, bastando que se lhes mostrasse o caminho do dever.

Estou com Osório e por isso creio que antes do regulamento disciplinar há o sentimento irrefreável do dever norteando nossas condutas.

Estou me desgastando muito, conversando muito, dialogando muito, debatendo muito, respondendo a muitos e-mails, lendo sugestões e críticas com paciência e resignação.

Não sei comandar de outro jeito.

Não sei também ser indiferente à dor, mas estranhamente sou contido na alegria.

Na próxima semana já não mais usarei este blog como interlocução de meu comando.

As postagens aqui voltarão a tratar de segurança pública e não mais sobre a PMERJ exclusivamente.

Mas continuarei postando, embora isso vá diminuir muito, pois preciso de tempo para descansar.
A função de Comandante Geral pode ser exercida de muitas maneiras e escolhi o diálogo e a valorização do profissional como balizadores.

Sou contra performances que não contribuem com o engrandecimento humano. Não consigo entender que para alguém se mostrar grande, deva diminuir o outro, em especial em público.
Se eu disse que devemos vencer a preguiça, foi porque estava falando do desânimo que nos invade a alma e nos faz descrentes de mudanças.

Mudanças incomodam, mas elas estão acontecendo.

Estou sem tempo para ler meus livros; o blog Casos de Polícia, o blog Repórter de Crime, o blog da Segurança, o Rebouças e Santa Bárbara e isso é doloroso para mim.

Aliás, tenho lido o "Praças da PMERJ" e queria aproveitar para dizer à Mônica e ao CB Verdade, que reflito com atenção sobre o que dizem, e se me permitem uma sugestão, melhorem cada vez mais o espaço.

Reflitam para o fato de que o nome do Blog e o que estiver postado nele vão dizer da qualidade dos nossos profissionais, com as angústias e necessidades que expõe.

Ele é cada dia mais lido pelo público externo, e a opinião pública o verá como mais uma fonte de aferição das qualidades dos praças da corporação; seus pontos de vista e dimensão deontológica em que se inserem.

Vou ficando por aqui.

Mesmo sem ser um homem religioso me ocorre, mais uma vez, lembrar Jesus quando disse Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele tivesse ateado.

Era do fogo das mudanças, das transformações no solo das nossas existências que Ele falava.

Haverá ceticismo, descrenças, desânimos, falta de cooperação, torcida contra e todo tipo de obstáculos, mas, ainda assim, iremos tentar.

Não se aconselhem com receios, dizia, a seu turno, o general Patton aos seus comandados.

Vou continuar tentando não me aconselhar com os meus.

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